A história da imprensa em Pernambuco foi moldada por transformações políticas e sociais desde o período colonial até sua consolidação no século XIX.
Durante o período colonial, a circulação de notícias e impressos era limitada pelas restrições impostas pela Real Mesa Censória, que controlava a impressão e circulação de livros e periódicos tanto em Portugal quanto em suas colônias. Entre 1795 e 1803, poucos periódicos chegaram à Província de Pernambuco, trazidos por negociantes, como a Gazeta de Lisboa e o Mercurio Historico Politico e Litterario de Lisboa. Esses impressos incluíam notícias internacionais, informações sobre vida social e religiosa, e eram destinados a um público composto por homens de letras e leitores em busca de ilustração pessoal (VERRI, 2009).
A chegada de impressos ao Brasil foi impulsionada por eventos históricos e pela atuação de figuras importantes, como o Bispo Dom José Joaquim da Cunha Azeredo Coutinho, que promoveu o ensino e a circulação de notícias na Província. Apesar das dificuldades impostas pela censura e pela escassez de periódicos, comerciantes e livreiros desempenharam um papel crucial na disseminação de impressos em Pernambuco, como exemplares da Gazeta de Lisboa e almanaques com temas variados — da náutica à astronomia e história (VERRI, 2009).
A consolidação da imprensa local começou a se estruturar no início do século XIX, especialmente com a aquisição da primeira tipografia em Pernambuco em 1815 pelo comerciante Ricardo Fernandes Castanho. Embora inicialmente inativa, a tipografia foi utilizada durante a Revolução de 1817 para imprimir panfletos que propagavam os ideais republicanos do governo provisório. Após a repressão ao movimento insurrecional, a atividade tipográfica foi retomada em 1821, com a criação da Junta Provisória em Pernambuco e a publicação do primeiro periódico da província, a Aurora Pernambucana, pela Oficina do Trem Nacional de Pernambuco (RAMIRES, 2017).
A partir de 1822, a Tipografia Nacional foi modernizada e passou a publicar periódicos como Segarrega, O Maribondo e O Conciliador Nacional, que refletiam os debates políticos e ideológicos da época. Posteriormente, a Tipografia Nacional foi adquirida por Manoel do Rego Clemente Cavalcante e seus sócios, formando a Tipografia Cavalcante e Companhia, que se tornou um dos principais centros de produção de impressos na província. Outro destaque foi a Tipografia de Miranda e Companhia, fundada em 1823, que publicou periódicos de postura mais radical, como O Typhis Pernambucano e O Liberal, defendendo ideais republicanos e criticando o governo central no Rio de Janeiro (RAMIRES, 2017).
No final do século XIX, a imprensa tipográfica em Pernambuco ganhou destaque com a publicação de jornais como A União, A Imprensa e Julio Hancem, relacionados à União Typographica Pernambucana. Essas publicações, encontradas em acervos como o Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano e a Fundação Joaquim Nabuco (FUNDaj), revelam características gráficas refinadas, como o uso de cores e purpurina dourada. A União (1894) destacava-se por sua minuciosidade gráfica e extenso conteúdo sobre a classe tipográfica, sendo dirigido aos trabalhadores do setor gráfico de Pernambuco (ARAGÃO, BARBOSA & BARBOSA, 2023).
A diversidade temática e gráfica marcou a imprensa pernambucana, que desempenhou um papel crucial na formação da identidade cultural da região e na disseminação de ideias e conhecimentos. Apesar das dificuldades financeiras enfrentadas por muitas publicações, a cultura impressa contribuiu para a construção de uma sociedade pautada em ideais modernos e na formação de uma opinião pública local (RAMIRES, 2017; NASCIMENTO, 1982).
Aragão & Barbosa (2023) apresentam uma análise detalhada sobre os periódicos tipográficos do século XIX, destacando sua relevância como instrumentos fundamentais para a disseminação de ideias e informações em um contexto de intensas transformações políticas e sociais. Esses veículos não apenas refletiam os debates da época, mas também desempenhavam um papel ativo na construção de identidades culturais e na mobilização de opiniões públicas.
No recorte cronológico, o Jornal do Recife emerge como um exemplo significativo da tipografia local. Fundado em 1825, esse periódico se consolidou como um dos principais meios de comunicação da região, especialmente durante o século XIX. Sua produção tipográfica, marcada pela qualidade técnica e pela diversidade de conteúdos, tornou-se um símbolo da imprensa pernambucana, impulsionando o jornalismo local e a circulação de ideias num período de profundas transformações. A tipografia do Jornal do Recife, situada na Rua do Imperador, foi responsável pela impressão de diversos periódicos e revistas que marcaram a história da imprensa pernambucana, como a Revista Commercial e Industrial e a Renascença.
Luiz do Nascimento, em sua obra História da imprensa de Pernambuco (1821–1954), volume VIII (1982), realiza um mapeamento aprofundado dos periódicos da região, com especial atenção ao período de 1916 a 1930. Sua pesquisa é essencial para compreender a evolução da imprensa pernambucana, oferecendo uma análise detalhada das características, temáticas e dinâmicas dos jornais que marcaram a história local. Nascimento destaca, ainda, a relevância de figuras como João Ezequiel, tipógrafo negro pernambucano, que desempenhou papel central na redação de periódicos como A União, evidenciando o papel dos jornais como agentes de transformação social e política.
O panorama institucional apresentado no documento da Fundação Joaquim Nabuco (FUNDaj) ressalta as dinâmicas de censura e circulação que permeavam a produção e distribuição dos periódicos no Brasil. Os acervos da FUNDaj, juntamente com os do Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano (APEJE), oferecem acesso a edições impressas e microfilmadas de jornais que enfrentaram desafios políticos e sociais em sua trajetória. A análise evidencia como as restrições impostas pelas autoridades moldaram o conteúdo e o alcance dos jornais, ao mesmo tempo em que destaca as estratégias utilizadas pelos editores para driblar essas limitações e garantir a disseminação de informações.
Os estudos apresentados reforçam que Recife não apenas recebeu os primeiros impressos no Brasil, mas também se consolidou como um dos principais polos editoriais do país, desempenhando um papel sofisticado e influente na história da imprensa nacional. A cidade foi palco de um processo editorial dinâmico e inovador, marcado pela produção de periódicos que refletiam e moldavam os debates políticos, sociais e culturais do século XIX e início do século XX. A riqueza e diversidade dos impressos recifenses evidenciam a importância da região na construção de uma cultura impressa que dialogava com os ideais de modernidade e independência, consolidando sua relevância no cenário nacional.
Referências
- ARAGÃO, I. R.; BARBOSA, M. E. S.; BARBOSA, N. D. O. Em busca de jornais de tipógrafos do século XIX em instituições de Recife e acervos digitais. Anais do 11º Congresso Internacional de Design da Informação, 2023.
- NASCIMENTO, Luiz do. História da imprensa de Pernambuco (1821–1954). v. VIII: Periódicos do Recife – 1916–1930. Recife: Editora Universitária, UFPE, 1982.
- RAMIRES, Mário Fernandes. Tipografias e tipógrafos em Pernambuco, 1815–1824. Revista de História, São Paulo, 2017.
- VERRI, Gilda Maria Whitaker. Relações de notícias na Província de Pernambuco entre 1795 e 1803. In: ANPUH – XXV Simpósio Nacional de História, Fortaleza, 2009. Anais […].

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